Sobre

Sério e maduro, lúdico e aberto, às vezes picante, para superar preconceitos e reintegrar sentimento e corporalidade

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Diário de uma Rainha-Capítulo 01




Diário de uma Rainha - by Rachid Hannah





Não gostava de minhas aulas na faculdade. Decidi pelo curso de Letras porque minha mãe dizia que os estudos clássicos, mais que oferecer uma profissão, moldavam a alma, preparando a pessoa para toda a vida. Ainda não sei se ela estava certa pois não me sinto preparada para nada.

Havia um professor, porém, que me provocava. Não era por causa de seu perfil longilíneo, nem pelos cabelos escuros ou pelo vigor que o corte reto de seu nariz dava a seu rosto. Sua voz rouca e baixa, ao mesmo tempo que suave, me agradava. Era ela que me atraía e seu tom dirigia minha atenção ao que ele falava. Em seu discurso sobre o decorrer do pensamento ocidental, atravessavam meu espírito as noções de razão, consciência, prazer, felicidade, moral.  Agradava-me saber que o homem não foi sempre visto da mesma maneira. Nem a mulher. 

Sentir-me diferente a cada época fascinava-me. Quando ouvi pela primeira vez a noção de sujeito, minha imaginação soltou-se. Sujeito e súdito são a mesma palavra em inglês, aquele que se sujeita a algo, às ordens de sua rainha e a seu reinado - nada pertence a ninguém. Tudo é da rainha. Ela ordena, comanda, exige. Ela é senhora de seus súditos.

- Enfia tudo! – ouvi.
- Implore de novo, escravo. – respondi eu. – E fale direito desta vez.
- Enfia tudo, minha rainha, eu preciso de tudo!

Meu escravo tremia todo em seu corpo robusto, enquanto eu o penetrava com meu brinquedinho de quase um palmo. Minha espada, vestida em mim também como uma armadura, trazia-me a sensação de poder e eu transmitia isso em meus movimentos cada vez mais intensos. O escravo não queria ser apenas penetrado, ele desejava sentir o balanço de minha pélvis contra seus quadris. Aquilo o fazia delirar. Segurei-o firmemente em seus ombros e intensifiquei as batidas de meu corpo contra o seu. Gemendo loucamente, suando desesperado, clamando por mais, ele alcançou o gozo libertador. Estava livre de sua rainha, a quem, após pagar regiamente, deixaria até necessitar ser violado de novo. Ao sair de meu apartamento, o sóbrio cavalheiro de roupa social não guardava nenhum traço do escravo que demandava e cumpria minhas ordenações. Voltava ele para sua vida, seu trabalho, sua mulher, enquanto eu permanecia soberana em meu amado e solitário reino.


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